A Minha Vida Passada

Maria do Céu & Vitorino Simão

Maria do Céu & Vitorino Simão

Esta noite eu tive um sonho, sonhei que estava viajando para as terras além mar, Moçâmedes, a minha terra natal eu iria visitar.

O avião aterrou, o meu corpo balançou, tive medo, emoção, alegria e saudades, eu iria enfrentar a pura realidade.

Sonhando fui caminhando e dei a volta à cidade, passando pelos lugares em minha mente marcados desde a minha tenra idade e também na mocidade.

Vou passar a descrevê-los com amor e com saudades, começando por minha alegre casinha onde nasci e vivi com minha querida família por longos felizes anos. Nesse tempo, a vida era difícil para se ganhar dinheiro, para o nosso dia a dia, para o nosso sustento. Faltava lá tanta coisa dificultando o trabalho.

Os meus pais era novos, alegres e muito trabalhadores e pretendiam vencer as grandes dificuldades. Nossa família era unida, entre nós havia amor, compreensão, amizade e isso contribuía para ajudar as vencer as grandes dificuldades.

Sonhando vou caminhando e vejo a minha escola de madeira e já velhinha com as tábuas remendadas devido à sua idade, foi ali que eu andei, estudei da primeira à quarta classe. Todos éramos amigos, todos nos dávamos bem e os nossos professores ensinavam olhando por nós também, não havendo distinção na côr da pele ou da raça.

Sonhado lá vou andando e começo a ver o luar, o barquinhos baloiçando e as gaivotas voando, parecendo convidar a um banho precioso nas águas daquele luar.

O meu sonho continua e eu sempre a caminhar, para em frente ao palácio, que tem vista para o luar. Eu sempre o admirava quando por ali passava e quando à noite por vezes havia festa, jantares e convidados, o palácio era lindo, todos ele iluminado, dando vida, dando luz, dando beleza à nossa pequena cidade.

O meu sonho continua e um pouco mais abaixo lá está o tribunal, é um prédio mais moderno, é ali que os juízes trabalham, interrogam criminosos – quem comete grandes erros, lendo as suas sentenças por se portarem tão mal.

Sonhado e caminhando vou descendo a ladeira e já vejo a fortaleza que é grande e bonita, construída ao pé do mar para defesa da cidade.

Por de trás da fortaleza há enormes pedras negras meio enterradas na areia, umas por cima das outras, parecendo uma barreira para a água não entrar. Ali vão batendo as ondas e ali vão rebentar e sua espuma branquinha se desfazendo no ar, e quando o mar está bravo o barulho é enorme, por vezes de assustar.

Vou andando mais um pouco, continuando a sonhar, pisando aquela areia da praia onde sempre se faziam as lindas festas do luar. Continuando sonhando, volto atrás e vou subindo a ladeira, chegando em frente à igreja que tem vista para o luar, ali foi o meu batismo e foi ali que casei.

No meu sonho vejo um casamento – eu estava tão bonita no meu vestido de noiva que era lindo e me ficava tão bem. Quando cheguei à igreja o meu noivo já lá estava me esperando no altar. Meu irmão deu-me o braço, acompanhou-me ao altar, ali estava o meu noivo tão bonito e bem vestido, com o seu lindo sorriso e um brilho no olhar.

Depois da cerimónia e os papéis assinados, caminhamos para a saída para tirar fotografias, para sempre recordar.

Ao caminharmos para o carro, eu senti-me uma rainha com o meu rei ao meu lado.

I
Quando acordei do meu sonho
Meus olhos estavam molhados
Porque eu estava chorando
De emoção e saudades

II
Os lugares que descrevi
Para mim eles são sagrados
São parte da minha infância
E também da mocidade

III
Agora com mais idade
Sempre estou a recordar
A minha vida passada
Nas terras de além mar

Maria do Céu Simão, 20 Fevereiro 2015

Lembranças da Minha Terra

Nascia o sol era verão
Eu eu ficava parada deslumbrada
Junto à igreja e ao mar
Olhando embevecida
Aquela grande baía
Aquela zona sem par.
Como é grande a natureza
Dando assim tanta beleza
Pura, simples e real
O sol, a bola de fogo
Calmos, muito devagar
Ia subindo, subindo
Deixando seus reflexos
Por tudo quando era mar.
Praias lindas, concorridas
Com os banhistas ao sol
As conchinhas e os búzios
E o seu lindo farol
Os caranguejos bonitos
E as tartarugas andando
A passo de caracol.
Mais abaixo a fortaleza Para lembrar o passado
As avenidas bem largas
E os jardins cuidados
Casas lindas e modernas
Pintadas com muito gosto
E o friozinho que fazia
Em pleno mês de Agosto.
Moçâmedes, a minha terra natal
De grandes recordações
Amada por tanta gente
Maltratada e destruída
Por ganância e ambições.

Maria do Céu